"Ao atravessarmos fronteiras geográficas, nos deparamos também com fronteiras internas, silenciosas, por vezes desconhecidas. Viver fora do país de origem é, por si só, uma experiência transformadora. As diferenças culturais não se manifestam apenas nos gestos cotidianos ou no idioma que se fala, mas no modo como se expressa afeto, como se lida com o conflito, com o tempo, com o silêncio, com o corpo, com o desejo. Muitas vezes, aquilo que parecia uma simples mudança de país se revela uma mudança mais profunda.
Se há filhos, a complexidade aumenta: como alinhar diferentes visões de mundo e formas de educar?
Transmitir a herança cultural e ainda assim, oferecer a essa nova geração uma sensação de pertencimento? Como equilibrar raízes e asas, tradição e abertura cultural?
A escuta terapêutica, nesse contexto, oferece um espaço onde essas diferenças podem ser acolhidas e compreendidas sem julgamento. Um lugar onde é possível elaborar os conflitos que emergem no encontro de culturas da experiência migratória, encontrar palavras para aquilo que parecia indizível e reconhecer no outro – seja em um relacionamento amoroso com um parceiro de outra cultura ou nas relações de trabalho com pessoas de outros países – não apenas um estrangeiro, mas também um companheiro de travessia".